segunda-feira, 12 de agosto de 2013

De Recôncavo à Baixada - Economia, fé e política Fluminense na periferia da Metrópole


*Por Ivan Machado


A Baixada Fluminense é ainda nos dias de hoje uma Região que reflete as grandes mudanças ocorridas no Brasil contemporâneo. Desde a chegada dos primeiros ocupantes não nativos, denomina-se essa gigantesca área de Recôncavo da Guanabara ou do Rio de Janeiro subordinando-a geograficamente à Baia onde está a côrte e posteriormente a Capital, refletindo a hierarquia nacional que se dá em todos os sentidos. Assim, partindo do município-mãe, pólo gerador de todos os outros gradativamente emancipados - Nova Iguaçu – nem mesmo toda riqueza circulante por seus portos e caminhos não foram suficientes para avançar a partir do status de recôncavo até a virada do Século XX, quando o conceito de nação rural perde espaça para valores positivistas de progresso e evolução.

Já no Século XVII é possível perceber o potencial agrícola do Recôncavo, com dedicação prioritária para a produção de cana de açúcar e seus derivados. Nas fazendas que se multiplicaram na Região, vemos uma característica comum que é a proximidade com os rios, o que garantia uma série de vantagens, tais como navegação e abastecimento de água, fundamentais para o escoamento da produção e a sobrevida dos povoados. O que era anteriormente uma área dividida entre sesmarias com seus primeiros registros que datam do ano de 1558, é possível ver os limites que esboçam a Região, entrecortada por rios e canais que, no período das cheias e na subida das marés criam grandes alagadiços e onde proliferam doenças típicas de grandes áreas florestais. (MATOSO, Lamego, 1964, p.195 )

Não se exclui, é claro, a existência de uma lavoura de subsistência, dando conta de uma produção de curta escala de gêneros como arroz, feijão e milho, possibilitando a permanência de uma população local nessas terras, garantindo a monocultura como sendo, sem dúvidas, o grande gerador de riquezas. Para tanto, era necessário o uso de mão de obra em larga escala, o que era garantido pela chegada de um número significativo de negros escravizados, à Região, dinamizando o uso daquelas terras. Inclusive, Nielson Bezerra se utiliza do termo Recôncavo especificamente no que se refere a utilização da mão de obra escrava negra na Baixada Fluminense (BEZERRA, Nielson, 2011, p.17). Inclusive, no que se refere ao tema proposto pelo citado autor com sua obra Escravidão, Farinha e Comércio no Recôncavo do Rio de Janeiro, a farinha passou a ser o foco da exploração econômica já no Século XIX, por conta do declínio na produção de cana de açúcar.

Com o crescimento demográfico e o eventual distanciamento da Côrte em relação a essas terras que eram de fato, utilizada meramente como rota de passagem para a nobreza, a grande referência de poder na região era a igreja que adotava o critério de freguesias para delimitar suas áreas de atuação. Essas freguesias davam às matrizes nomes que aproximavam a igreja do povo – os “fregueses”- adotando nomes ligados aos rios próximos, tais como São João do (rio) Meriti, N. S. da Piedade do (rio) Pilar, entre outros. Gênesis Torres, em seu artigo Baixada Fluminense, o processo de ocupação pela fé, esclarece quanto essa relação próxima entre o Rei e a Igreja:

A presença das capelas e igrejas numa determinada região demonstrava a importância que aquele território representava perante o poder secular (do Rei) e o poder eclesiástico (do Papa), também chamado de universal.

Exatamente pela proximidade com o principal centro urbano do século XVII, surge então a primeira freguesia que é a de N. S. do Pilar (hoje, Duque de Caxias) e outras três em Caxias e Magé, com a de N. S. da Piedade de Iguaçu inaugurada pouco mais de cem anos depois em 1719. Assim, o sistema de Freguesias é um critério adotado durante todo o período imperial brasileiro. 

Já o termo Baixada Fluminense é controvertido entre pesquisadores nos diversos campos de atuação. Nesse caso, com a brevidade deste trabalho não será possível aprofundar-se no conceito. No entanto, cabem algumas observações como a que se refere Manoel Simões:

Não existe um consenso geral do que seja a Baixada Fluminense, quais os  seus limites e os municípios que a compõe. A cada trabalho sobre essa região reabre-se o debate, pois cada autor se coloca de maneira diferenciada com relação a área a ser delimitada. Contudo, existem alguns consensos que devem ser ressaltados. Os municípios de Nova Iguaçu e Duque de
Caxias são apontados, com unanimidade, como núcleos desta região, assim como não há questionamento sobre a inclusão de seus “satélites” imediatos, como Belford Roxo, São João de Meriti, Nilópolis, Mesquita, Queimados e Japeri, que são incluídos como parte da Baixada Fluminense por todos os autores, mas nem sempre analisados com a mesma profundidade
que o “núcleo duro”. Os problemas se encontram nos limites leste, oeste e norte. Dependendo dos autores, Magé e Guapimirim podem ser ou não inseridos na Baixada Fluminense, o mesmo ocorrendo com Itaguaí, Seropédica e Paracambi. (SIMÕES, Manoel, 2006, p.02)

Com a virada do Século XX o Brasil apresenta uma série de contradições que acompanham a busca por um equilíbrio republicano e uma identidade nacionalista. Nesse momento se estabelece uma crise econômica no Recôncavo do Rio de Janeiro, gerada tanto pelo impacto causado com o fim do regime escravista como pela mudança na vocação econômica do país que, mesmo sendo ainda fundamentalmente agrário, desvia para outras regiões do país as atenções e investimentos, inclusive apoiando-se no novo eixo de forças políticas que se direciona gradativamente para São Paulo e Minas Gerais. Já na década de 30 podemos perceber na sociedade o quanto são profundas essas mudanças, voltadas à polarização do poder político, como vemos em um trecho da letra da música Feitiço da Vila de Noel Rosa:

“São Paulo dá café

Minas dá leite

e a Vila Isabel dá samba!”

Vê-se aí um Brasil em que, culturalmente, o rural domina e o urbano governa. Nesse momento, ser parecido ao Norte Americano torna-se exemplo de vanguarda para os que buscam uma economia sólida, ao passo que ser europeu é sinônimo de classe e tradição para as oligarquias persistentes. Houve sim uma tentativa de manutenção de um Brasil de caráter agrário em suas Regiões periféricas, como assim almejou Nilo Peçanha, cuja atuação teve reconhecimento na Baixada com a denominação do Distrito de Engenheiro Neiva para Nilópolis, o que na prática não produziu a resultado almejado. No meio do caminho estão os novos proprietários de terra, que vêm na laranja uma nova vocação econômica para a Baixada Fluminense. O Jornal O Correio da Lavoura em sua edição de março de 1932 publica que o Secretário de Fomento Agrário do Estado informa ao Ministro da Agricultura que no período de janeiro a outubro daquele ano, Nova Iguaçu exportara nada menos que quarenta e oito mil caixas de laranja pêra, sendo Inglaterra e E.U.A os destinos prioritários. Já em 28 de março 1943, no auge da II Guerra Mundial, o mesmo periódico publica a seguinte manchete: “O parque citrícola brasileiro corre sério risco de perecer”, referindo-se aos impactos do conflito na nova monocultura da Região. Nem mesmo a compra de um navio frigorífico por parte do governo, de modo a aumentar a sobrevida das frutas no transporte, foi suficiente para enfrentar a decadência do chamado “ciclo da laranja”.

Em sentido oposto ao da laranja está o crescimento industrial na Baixada Fluminense no mesmo período, de tal modo que em 1902 é publicado no Diário Oficial da União a criação da olaria Ludolf & Ludolf estabelecida exatamente nas terras da Fazenda Cachoeira, propriedade de Jerônimo Mesquita. Ali se estabeleceu a Companhia Materiaes de construcção que, com a fabricação de manilhas, tijolos e seu carro chefe as telhas francesas, fazem dessa a maior olaria da América Latina, refletindo o crescimento urbano da Região que agora, passa a ter uma característica fundamentalmente urbana. As diversas olarias que proliferam às margens das grandes vias de acesso, como a Estrada Rio-São Paulo (hoje, Via Dutra) inaugurada pelo presidente paulista Washington Luis, mostram uma nítida mudança na vocação econômica e social da Baixada Fluminense. Diversos loteamentos, em decorrência do fim do último ciclo rural da Baixada, surgem criando uma nova fase que mudaria definitivamente a face da região que é o período das Emancipações que se inicia em 1943 com Duque de Caxias e termina com Mesquita em 1999.

A questão da violência urbana torna-se um discurso social dos nossos dias que não se vincula ao contexto histórico das grandes metrópoles, pelo fato de que a exploração econômica que se deu em absolutamente todo o território nacional não se mistura com a permanência das famílias dos grandes senhores de terra em seus locais de domínio, neste caso específico a Baixada Fluminense. Esse fenômeno cria nos habitantes locais de igual modo um sentimento de desapego e desprestígio, obscurecendo a rica história que lhe pertence. Com a elaboração cada vez maior de trabalhos acadêmicos é possível dar à Região o devido valor, fazendo-lhe justiça.

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Referências:
- LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e a Guanabara. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1964

- BEZERRA, Nielson Torres. Escravidão, Farinha e Comércio no Recôncavo do Rio de
Janeiro – Século XIX. Rio de Janeiro: APPH-CLIO, 2011

- TORRES, gênesis. Baixada Fluminense: A Construção de Uma História. 2. Ed. Ver.
Ampliada. Rio de Janeiro. INEPAC, 2008

- SIMÕES, Manoel. A cidade estilhaçada: reestruturação econômica e emancipações
municipais na Baixada Fluminense. (Acadêmico) em

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?
select_action=&co_obra=59980 (23 de abril de 2013)

- Jornal O Correio da Lavoura – Acervo (1917-1945)

- Música Feitiço da Vila – 1934. Noel Rosa

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* Ivan Machado
Graduando em História pela UNIABEU/Nilópolis e Coordenador do Departamento de Folclore da Secretaria Municipal de Cultura de S. J. de Meriti.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Aulas de Violão para principiantes

Estou voltando a dar aulas de violão. Pelo fato de ter um método próprio, vou aos poucos colocando aqui minhas idéias e propostas de exercícios. De forma prática, vamos então entendendo como dominar o instrumento mais popular do Brasil, na minha opinião.

Exercício para mão esquerda


Mesmo para aqueles que são canhotos o dedilhado é um grande problema para muitos, pois os movimentos feitos ao vilão não são muito usuais no cotidiano. Logo, esses exercícios ajudarão muito nesse primeiro contato com o instrumento.

As fotos mostram que o exercício abaixo consiste em mostrar como devem estar postados os dedos, observando que os demais não devem se afastar do braço do violão, e que cada dedo deve estar postado ligeiramente acima do traste à frente da casa correspondente.
dedo 1
dedo 2
dedo 3
dedo 4
 Abaixo segue o vídeo correspondente ao exercício para que você entenda melhor.


Exercícios para a mão direita



Aqui temos o uso da mão direita, inicialmente dedilhando as cordas, como forma de criar a devida afinidade e independência de movimentos em relação as cordas.

As fotos abaixo são um panorama do formato da mão em relação ao encordoamento.
indicador , médio e anelar, sempre juntos

polegar em forma de "positivo"

dedo mínimo relaxado

os dedos que não tocam, não se afastam  muito das cordas
Abaixo segue vídeo descrevendo os exercícios correspondente.