A Baixada Fluminense perde seu mais querido historiador
Prof. Ney Alberto sendo entrevistado por grupo de alunos - foto: flickr.com
O Professor Ney Alberto, falecido
na sexta-feira, dia 22 de junho, é um grande exemplo que fica para quem tem
paixão por nossa história. Licenciado em História pela Universidade Gama Filho,
acumulou durante décadas de pesquisa u número impressionante de documentos,
muitos deles de fonte primário (documentos originais) que traduzem os fatos que
mostram Nova Iguaçu com sua face clara e compreensível sobretudo ao leigo ou
estudantes locais. Em particular interesse, teve na oralidade e na pesquisa
iconográfica sua grande paixão. Com uma criatividade sem par, Ney Alberto
forjou uma didática própria para promover a memória local, sobretudo aos jovens
que, segundo ele, deveriam ser contagiados pela paixão de ser da Baixada
Fluminense e isso somente seria possível com informação e memória. Fotos de
times de futebol, passando pelos clubes e bailes, até documentos e tijolos são
recursos utilizados para retratar a memória da Baixada Fluminense. E o que não
lhe faltava eram sambas, contos textos teatrais e crônicas, ilustrando seu
ponto de vista sobre a História Local.
Em um bate descontraído papo no
final de 2011, em sua sala que então se
localizava nas dependências do que hoje é o Centro Cultural de Nova Iguaçu, Ney
Alberto falava da possibilidade de cria um Centro de Memórias de Mesquita no
bairro Banco de Areia, faltando alguns detalhes para a cessão do espaço, o que
não houve tempo de concretizar.
Artigo publicado no Globo Baixada
Em seguida vai um papo com Ney onde ele mesmo explica de maneira até engraçada como adquiriu a deficiência no rosto.
http://www.youtube.com/watch?v=kO2-yTJ2zWY&feature=plcp
Segue abaixo biografia de Ney Alberto escrita por Gêneses Torres:
http://www.youtube.com/watch?v=kO2-yTJ2zWY&feature=plcp
Segue abaixo biografia de Ney Alberto escrita por Gêneses Torres:
Carinhosamente
chamado de professor Ney Alberto (Gonçalves de Barros), nascido em 27 de
setembro de 1940. Filho de Alberto Gonçalves de Barros e Eufrozina Prado de
Barros. Ney era reconhecidamente pela comunidade acadêmica da Baixada
Fluminense como o guardião da memória da vida regional. Procurou durante toda a
sua vida dedicar aos estudos regionais. Terminou sua vida numa sala no Centro
de Memória Avelino Martins Azevedo que funcionava no Espaço Cultural Sylvio
Monteiro.
Baixada
Fluminense. Conversamos muito, fizemos muitos planos, entre eles o de criar o
Instituto de Pesquisas e Análises Históricas e de Ciências Sociais da Baixada
Fluminense (IPAHB). Um sonho em parte concretizado e que teve no Ney um de seus
grandes baluartes. Ney foi tesoureiro, secretário e vice-presidente, hoje fazia
parte do Conselho Fiscal e do departamento de pesquisas do Instituto.
Ney foi
em vida o que podemos chamar um ser multicultural e interdisciplinar.
Acreditava que a cultura é a mãe de todo saber e profetizava: “A primeira coisa
que deveríamos fazer na educação seria mudar o nome de Educação e Cultura para
Cultura e Educação porque a Cultura antecede a instrução.”
Era
formado em Licenciatura Plena em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras do Rio de Janeiro (Sociedade Universitária Gama Filho) e Bacharel em
Direito pela Sociedade de Ensino Superior de Nova Iguaçu (SESNI). Possuía
cursos de extensão em Teoria e Método em Arqueologia das Américas – Sociedade
dos Amigos do Museu Nacional – RJ. Curso de Pré-história brasileira – Sociedade
dos Amigos do Museu Nacional e Curso de Extensão Universitária: Antropologia
Física e Cultural (F.F.C. e L. do RJ) – Gama Filho.
Na sua
militância em prol da cultura exerceu as seguintes atividades: Presidente do
Instituto Histórico de Nova Iguaçu; Membro da Ala de Compositores da Escola de
Samba Beija-flor de Nilópolis; Compositor e autor musical filiado a SICAN;
Professor de História da Prefeitura de Nova Iguaçu e Pesquisador Independente
sobre a História da Baixada Fluminense.
Ney foi
autor de inúmeras músicas e enredos no mundo do samba. Tinha o livre trânsito
entre renomados sambistas e compositores. Respeitado entre memorialistas na
acepção mais pura da pesquisa histórica. Tinha aversão velada às discussões
sobre a baixada que não trouxesse conteúdo sem fundamentação científica.
Crítico contumaz àqueles viviam inventando história para a Baixada. Não tinha
paciência com a ignorância e com os incautos. Esbravejava diante dos políticos
aproveitadores. Foi amigo pessoal de Sebastião de Arruda Negreiros, considerava
um político sério, um dos melhores que passou pela sua terra. Dele, foi seu
chefe de gabinete em 1958.
De todos
os seus amigos de convivência nos anos 60 e 70, o seu maior e mais próximo foi
Waldick Pereira. Fizeram juntos muitas pesquisas de campo, produziram e
salvaram um grande número de documentos perdidos nos porões dos arquivos
públicos que falavam da Velha Iguaçu. Produziram o livro a Mudança da Vila, um
clássico da literatura histórica iguaçuana.
Fundaram
na década de 1970 o Instituto Histórico e Geográfico de Nova Iguaçu. Um sonho
que acalentou durante toda sua vida e que acabou morrendo nos porões do Colégio
do Professor Ruy Afrânio, com quem conviveu por longos anos. Ney tinha críticas
ao Professor Ruy, mas o respeitava e com ele tinha uma carinhosa convivência.
Tive o prazer ao lado de Guilherme e Rogério Torres de presenciar até o fim de
sua vida esta relação.
Ney era
assim. Admirava o trabalho das pessoas na sua luta pela preservação do passado,
fazia a crítica necessária e sabia que o crescimento de nosso conhecimento
sobre a regionalidade era fruto de nossos métodos interpretativos. D’ai ser
implacável com os ditos novos historiadores regionais, quanto faltava com o
carinho que a historiografia merecia.
Sua
convivência com a imprensa nos últimos anos não foi muito boa, conversávamos
muito sobre isso, a cada entrevista os fatos históricos eram distorcidos, muita
entrevista e pouco conteúdo, achava que a imprensa não estava somando para
fazer crescer a consciência histórica na preservação do patrimônio histórico.
Esta questão o angustiava, em ver o tempo passar e a cultura ser colocada a
cada entrevista na sala do lixo. A porta de sua sala estava aberta para
estudantes do ensino fundamental e médio e fechada para a imprensa.
Seu
trabalho no dia a dia pode ser assim resumido em um pensamento dito por ele:
“Eu sempre me senti realizado porque eu trabalho me divertindo e me divirto
trabalhando”.
Moduam Matos também escreveu um artigo sobre Ney Alberto publicado no dia 01/07/2014 no Jornal de Hoje
Moduam Matos também escreveu um artigo sobre Ney Alberto publicado no dia 01/07/2014 no Jornal de Hoje