quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

MAIS QUE NUNCA, É A HORA DA ESQUERDA

As críticas históricas à Direita sempre foram marca dos movimentos sociais e partidos auto proclamados de Esquerda, considerando o confronto ideológico de parte a parte. No entanto, essa nova ordem política na qual vivemos, desenvolvida principalmente nos EUA no início dos anos 80 através do Neoliberalismo, que evolui para a face mais despótica do capitalismo a partir da família Bush, faz do dinheiro a única motivação de loteamento do Estado.


É importante lembrar que no Brasil, a partir do século XVIII, em paralelo às estratégias de acumulação de riquezas, surge também a preocupação da camada detentora do poder econômico com a divisão da capacidade de mobilização dos trabalhadores. Veja que um dos maiores ciclos produtivos que tivemos, o do café, contou com incentivos estatais para adoção de uma nova mão de obra, agora com a possibilidade de contar com imigrantes no cultivo e no beneficiamento desse grão, em detrimento de uma massa de trabalhadores disponíveis no pós regime escravista. Ou seja, os grandes donos de terras, verdadeiros comandantes de grandes áreas produtivas (os coronéis), usavam da política como forma de dominação plena de seus territórios. A estratégia era a manutenção de riquezas, tendo a estrutura política local como forma de legitimação de seu status quo.

O coronelismo teve suas pernas fraturadas com o Estado Novo sem, contudo, conseguir abrir os currais eleitorais do poder local nos Estados e municípios, o que se amplia com o lastro internacional do que chamamos de "Agronegócio", daí a relevância de figuras contemporâneas como José Rainha, na defesa de trabalhadores locais em suas lutas peculiares. Como ilustração desse poderio local que se amplia através de grandes associações patronais, vemos a afronta de um nada isento Ministro do Meio Ambiente na gestão Bolsonaro, à essa tão importante figura histórica, demonstrando assim o total desapego de um governo aos direitos mínimos de quem de fato gera riqueza para o país e renda à famílias que pouco tem à oferecer, além de sua força de trabalho. O fato é que, no Brasil, o poder local permanece, invisível e impune, perpetuando uma relação antiga e promíscua entre dinheiro e política.

A chamada reestruturação produtiva, que segundo Julia Abrahão (1), impõe uma nova relação cognitiva entre trabalhador e produção, cria um crescente afastamento entre trabalhador e produto, criando assim um novo perfil de trabalhador. Agora, sua função é, na maioria dos casos, a de controlador dos recursos tecnológicos que efetivamente geram os produtos. Há hoje, em consequência disso no Brasil, uma tendência de fim do emprego formal, dando espaço para terceirizações, pejotismo, cargos comissionados, em detrimento do que estabelecem as leis trabalhistas, daí a necessidade de encaramos com seriedade o movimento sindical e o associativismo de classe, como um todo, além da existência do Ministério do Trabalho, de modo que o trabalhador não se veja desamparado e entregue aos interesses de especuladores financeiros, de forma tão descoberta.

Outra grande perda, agora no que se refere a direitos é o constante desmantelamento do SUS. Esse sistema publico de saúde sempre foi elogiado pelas nações mais avançadas do planeta, por implementar a ideia de horizontalização do Atendimento, que consiste em dar acesso plena à saúde à população, indiscriminadamente e de forma gratuita. Vemos que, no entanto, o SUS tem sido alvo de desmantelamento  desde sua criação, de tal modo que até mesmo a população menos favorecida encorporou em suas vidas o desapego à saude pública, propagandeado pelas grandes corporações que inclusive recebem verbas públicas. O resultado é que os planos de saúde cobram caro e acabam jogando de volta o povo para o sistema público, por total incapacidade de gestão e por ignorar a saúde como direito e não como negócio.

Por último, vejo como fundamental a defesa do acesso à formação superior, com o objetivo inclusive de ampliar o número de pensadores com base teórica. Em um governo como o atual, onde o saber é depressiado, fatalmente a faculdade será espaço de formação para aqueles que perpetuam poder nas mão de poucos. Não digo aqui que escolas técnicas devam acabar, muito pelo contrário. Apenas alerto que as oportunidades devam Ser também horizontalizadas, de modo que o acesso à educação superior seja uma estratégia de colocar o país na disputa do conhecimento a nível Global e em prol do desenvolvimento tecnológico e humano de nosso povo e do país como um todo.

Vejam que esses objetivos seriam obviamente defensáveis à qualquer gestão séria, vide países de nível avançado no campo social, sem que existam governos declaradamente de Esquerda. No entanto, essa lateralidade ideológica segue uma corrente histórica entre nós. Então, cabe aos partidos que têm tais pontos citados como metas de defesa e desenvolvimento nacional, em seus estatutos, buscar um caminho de convergência, não do poder mas, do país, de modo que juntos possamos defender os interesses coletivos antes dos individuais e corporativos. O prêmio decorrente disso é ver definitivamente firme, produtiva, engajada e vigorosa, a Esquerda brasileira.

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Integra do artigo de Julia Abraão citado, em:
http://www.scielo.br/pdf/%0D/ptp/v16n1/4387.pdf