Mesquita não é hoje um município diferente de seus vizinhos
na Baixada Fluminense, principalmente se considerarmos nossas terras como
filhas de uma mesma mãe, Nova Iguaçu, que até a década de 40 trazia quase todos
os municípios a sua volta, em seu seio. Quando foi batido o martelo quanto a
emancipação de Mesquita em 25 de setembro de 1999 através da Lei Estadual n.º 3.253, de 25 de setembro de 1999, chega ao fim um processo que
já se arrastava desde a década de 50, quando o então 5º Distrito era o gigante
da industrialização regional, tendo como exemplo a maior fábrica de telhas e
tijolos da América Latina, uma fábrica de peças para trens, além de uma industria
de beneficiamento de derivados de petróleo criada nos anos 20, fechada na
década seguinte por conta de seu potencial poluidor, o que posteriormente gerou
problemas no período de edificação da atual prefeitura, devido ao nível elevado
de contaminação do solo. Isso, sem contar o célebre “ciclo da laranja”, que teve
seu declínio com a II Guerra Mundial. Todos os grandes nomes ligados a esses
empreendimentos se beneficiaram, deixando como memória apenas uma série de
ações trabalhistas e os prédios abandonados.
Há tempos então se buscava a autonomia política tão
justificável à epoca, através da iniciativa de memoráveis habitantes, porém sem
sucesso. Uma população que salta de pouco mais de 09 mil para mais de 125 mil habitantes
entre 1940 e 1980, entende que é hora de avançar dessa condição de
subserviência à cidade-mãe. Porém, nem mesmo o número elevado de vereadores mesquitenses
(chegando a 1/3 na ultima eleição) conseguiu garantir sucesso naquele sonho que
escorria pelos dedos. O senador Antonio Carlos Magalhães pega todavia de
surpresa todos da Comissão de Emancipação em 1996 quando consegue emplacar uma
emenda constitucional, impedindo mais emancipações territoriais. No entanto,
como o processo mesquitense já tramitava na instância máxima em Brasília,
faltava apenas adquirir recursos financeiros para o processo não fosse
arquivado ou indeferido. Membros da Comissão de Emancipação recorrem então ao
ex-deputado estadual José Montes Paixão, cuja família remonta o período de
explosão da ocupação urbana nesse antigo distrito iguaçuanos.
A condição era simples e clara. Paixão contribuiria com
recursos jurídicos e financeiros se constasse como signatário desse longo processo,
o que de fato aconteceu. Quem tivesse acesso ao processo em Brasília se deparava
com José Montes Paixão como responsável pelo processo, em detrimento de nomes
como o de Seu Edmundo e muitos outros, que acompanhava de perto essa luta desde
1947, como consta do livro “Das Terras e Mutambó ao Município de Mesquita”
(2007), de Fátima de Souza. Fatalmente, com o sucesso da intervenção de Paixão e
o desembolso de recursos que, logicamente, os humildes cidadãos não conseguiram
aportar, José Paixão reivindicou para si o título de “Pai da Emancipação”,
elegendo-se com esmagadora maioria os votos no primeiro pleito eleitoral,
conduzindo consigo vários apoiadores do processo, à essa gestão pioneira.
O que motivou o processo de
emancipação
O
processo de emancipação de Mesquita tem início em 1957, motivado pelo desejo de
mais atenção a demandas que se justificavam há muito tempo. Segundo o geógrafo
Ricardo “Breguelé” Simões (2007), a centralização do poder iguaçuano nos anos
50 foi o fator que motivou o início do processo de emancipação mesquitense. O
então 5º Distrito já apresenta um importante histórico de desenvolvimento econômico,
que não era condizente com a contrapartida da administração pública, que não dava
ao Distrito a devida atenção, no que se refere a benfeitorias como saneamento,
abastecimento e água e pavimentação de vias. Além disso, já existia uma classe
média bastante significativa em Mesquita, oriunda do desenvolvimento industrial
que já existia no local. Pelo menos três
grandes indústrias geravam emprego e renda a Mesquita, empresas essas que, pelo
seu tamanho e geração de riqueza, fez emergir uma casta social importante, que não
admitia ser ignorada por Nova Iguaçu e alguns indicadores sociais demonstram
claramente isso.
Criado
em 1946 com o nome de Sociedade
Recreativa de Mesquita, o clube se reunião em uma pequena sede no Centro
de Mesquita, adquirindo rapidamente o espaço do atual prédio dois anos depois, agora
com o nome de Mesquita Tênis Clube. Fator emblemático para a
criação do clube foi a existência do Mesquita Futebol clube, cujo perfil dos sócios
e demais integrantes não condizia com o desejo da classe média local, segundo o
relato do pesquisador mesquitense Carlos “Charles” Alberto: “A troca
de nome foi para não ser confundido com o rival da época, o Mesquita Futebol
Clube, primeiro clube da cidade, fundado em 1920 e conhecido como ‘‘os blacks’’,
pois aceitava negros como sócios”. Segundo D. Dininha, moradora
nascida em Mesquita em 1930 e ex-atleta do clube, os bailes do Tênis Clube eram
“invejáveis”. Era comum a participação de grandes orquestras nas seletas
festas, onde participava inclusive sua amiga, conhecida a época como “Lili
Mocinha”, que hoje conhecemos como Lili Safra, filha do industrial Mr. Watkins,
dono da indústria de laminação, que tinha seu pátio industrial em Mesquita, empregando
centenas de munícipes.
Outro fator fundamental para a justificativa dos
emancipacionistas dos anos 50 foi a capacidade de desenvolvimento urbano do
Distrito que tem como sua maior motivação o estabelecimento daquela que seria
considerada a maior fábrica de materiais de construção da América Latina. Criada
em 1908 pelo respeitadíssimo engenheiro Américo Ludolf, que incluiu na razão social da empresa, seu filho Alfredo Ludolf, ainda criança, a Companhia Materiais de
Construção não apenas foi considerada a maior no gênero como também pode ser considerada
o maior exemplo do modelo fordista no país. Com dimensões gigantescas, a
fábrica tinha uma linha própria de trem que a ligava diretamente a “Estação Geronymo
Mesquita”, como era chamada a época, por ter suas terras pertencentes
anteriormente ao filho do Conde de Bonfim. Os trabalhadores, que contribuíram com
o desenvolvimento tecnológico de ponta
da fábrica, tinham acesso a benefícios como casa, escola para seus filhos e um
cinema, denominado “Beija-Flor” que, no período do carnaval, cessava as projeções
para sediar a festa dos funcionários, que partia dali para um cortejo nas
imediações. Cabe observar que os limites da fábrica de quase 4km2, era a fronteira do Rio
Sarapuí que separava o 5º Distrito iguaçuano do município de Nilópolis, para
onde se mudou boa parte dos antigos funcionários após o fechamento da fábrica
em 1957.
20 anos depois, Mesquita avançou proporcionalmente menos em
relação à sua antiga condição de 5º Distrito. Ainda que apenas na segunda
gestão do município tenha sido edificada a grande maioria dos prédios públicos e
programas municiais ou vinculados ao governo federal, a população ainda não
tomou para si as rédeas da política local, vivendo desde a Emancipação em 1999
uma constante turbulência e desestabilidade política, sobretudo na relação
entre os poderes executivo e legislativo. Ou seja, ainda que figuras da cena
cultural e esportiva surjam na mídia elevando o nome da cidade, ainda é a
classe política que aparece, hora na condição de salvador de todas as coisas e
pai dos pequenos avanços ou ilustrando as páginas de fofoca ou policiais, por
conta dos constantes embates ou
revelações bombásticas.
Ou a população mesquitese se apropria de sua trajetória e
destino ou seremos fadados a nos submeter de tempos em tempos aos novos pais da
nossa história.
O Hino de Mesquita, uma novela à parte
Cerca de uma década após a autonomia política de Mesquita,
ainda lhe faltava um de seus principais símbolos. Considerando a riqueza
histórica desse que foi um dos lugares mais ricos, influentes e prósperos do
então Recôncavo da Guanabara, como era conhecida a Região, era de se imaginar que
ricos versos e melodias surgiriam para abrilhantar e elevar a autoestima dos
munícipes.
Publicada em 28 de junho de 2002, a Lei Nº 110 dispunha
sobre o edital que possibilitaria a escolha dos símbolos municiais (brasão,
bandeira e hino). O Artista gráfico conhecido como Jorge Baleia foi o vencedor
nas categorias bandeira e brasão. Porém, em relação ao hino, as coisas se complicaram
e vou citar aqui fatos por conhecimento próprio, pois os documentos
comprobatórios não estão disponíveis. No concurso citado, houve impugnação do
resultado em relação ao hino, ocorrendo o mesmo em 2009, sendo que nessa
ocasião não foi publicado documento oficial. Extra oficialmente é adotado o
hino vencedor (omitindo aqui nomes por questões obvias), ratificado pela
comissão julgadora do último certame, ainda que tenha havido recurso de
impugnação junto a prefeitura, litígio esse que ainda não garantiu ao vencedor
o direito de constar oficialmente seu nome nos anais da história, bem como a
gravação oficial, ainda que o tal hino vencedor e sob litígio, seja executado
de forma não oficial.
Segue o link do hino de Mesquita, na voz do compositor João Renato
Ainda me lembro de Paixão indo a associação de Moradores ABC na Chatuba para uma reunião de falta de água. Gostaria de ler o livro de Fátima de Souza, sabe onde encontro?
ResponderExcluirGratidão Ivan!
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