sexta-feira, 15 de março de 2019

BRASIL, EM TEMPOS DE TERRORISMO ESTATAL

Novo caso de terrorismo doméstico - foto: 

Logo após o atentado ocorrido em uma escola na cidade de Suzano-SP, o Senador pelo PSL Major Olímpio, membro da chamada "bancada da bala", fez uma declaração que dá base ao raciocínio que desenvolveremos à seguir.  Segundo o mesmo,

Se tivesse um cidadão armado dentro da escola, um professor, um servente, um policial aposentado lá, ele poderia ter minimizado o efeito da tragédia”

A questão aqui é a motivação por traz do discurso. Sem pensar nas consequências para a sociedade, o senador do PSL aponta para um modelo de país onde qualquer cidadão com condições financeiras, possa comprar sua arma e, teoricamente, defender a si e aos seus, o que na prática, cria sérios danos colaterais. Considerando o nível elevado de letalidade das atuais armas de fogo, podemos entrar para o seleto time de países  onde o cidadão produz grandes tragédias, com a assinatura do Estado.

Se existe um tempero especial que deixa um gosto de morte na boca de cada um de nós, esse tempero pode ser a intolerância. Essa falta de paciência e total desapego ao direito ou opinião alheios, saltam das telas do computador e parte para as ruas, templos e escolas por um motivo desumano, ainda que democrático. Nossos espaços de representação política que cumprem seu papel na estrutura republicana, está impregnado de representantes de grupos totalitaristas, preconceituosos e fundamentalistas, que incentivam o ódio e a repressão ao diferente.

Por conta disso, e por vivermos uma democracia representativa, se torna uma consequência natural que essas figuras políticas produzam justificativas e respaldo à ações concretas do mesmo tipo, na sociedade. O chamado “massacre de Realengo”, que no próximo mês completa oito anos, tem como paralelo com o de Suzano (em 13 de março), a intolerância motivada pelo que denominamos hoje como booling. O crescente incentivo de uma parcela militarista de políticos ao uso de armas, traz para o Brasil algo que já e comum entre jovens estudantes nos EUA, que é o revide letal aos desafetos. Cabe observar que as mídias eletrônicas são apenas mecanismos de aproximação ideológica, cabendo à sociedade local criar o ambiente legal ou ético, que justifique a ação letal.

Atirador faz transmissão ao vivo do massacre - Foto: Facebook
O massacre de ontem em uma mesquita na cidade de Christchurch (Igreja de Cristo) na Nova Zelândia, mostra, por sua vez, outra face dessa intolerância. A ideia de supremacia cristã branca naquele país desenvolveu um elevado nível de intolerância contra seus os imigrantes. Deveria ser natural que uma ex-colônia inglesa, como é aquele país, absorvesse em seu território pessoas também submetidas ao mesmo regime de dominação. No entanto, parlamentares neozelandeses promovem via internet constantes debates, incitando a população a reagir contra manifestações culturais e religiosas que não sejam cristãs. Acrescente à isso as diferenças étnicas o que, esteticamente, diferenciam um cidadão do outro, deixando literalmente o ódio à flor da pele.

O chamado “terrorismo doméstico” tem então crescido assustadoramente pelo mundo. Porém, vemos que o perfil do terrorista agora é outro. Ou seja, não temos hoje aquele tradicional grupo de genocidas internacionais, que se infiltram em países economicamente desenvolvidos. Esse fenômeno ocorre hoje, sobretudo, por conta do desequilíbrio étnico e ideológico que ocorre praticamente em países chamados de “ocidentais”. É a luta de comunidades indígenas que se confronta com interesses econômicos no agronegócio no Brasil, é a Esquerda, rechaçada por correntes que defendem o modelo de Estado Mínimo e, por conseguinte comprometido com privatizações, arrocho salarial e previdenciário, deflagrando assim esse clima de enfrentamento na sociedade.

O que o mercado de armas tem haver com isso?
Taurus: aposta equivocada no governo Bolsonaro
Ao contrário do que muitos pensam a famosa fábrica de armas nacionais TAURUS, não está com essa bola toda. Segundo matéria do Estadão, publicada no mês de janeiro, o governo Bolsonaro prepara estudo visando a abertura em 100% do mercado para a produção internacional de armas e investimento estrangeiro no setor. Ou seja, a Taurus, que teoricamente deveria servir ao mercado interno, terá que disputar mercado em pé de igualdade com países como China e EUA, já consolidados no mercado internacional de armas.

O corre que a Taurus deu um tiro no pé ao apoiar e investir na campanha de Jair Bolsonaro. Apostando nas mudanças no Estatuto do Desarmamento e acreditando na manutenção de seu monopólio interno, Empresa Forja Taurus, que teve na Bolsa de Valores um aumento de 91% em suas ações, só em uma semana no mês de setembro de 2018. Segundo o site Folha/UOL as ações da empresa a empresa deu um salto gigante em suas finanças, cujas ações passaram de R$2,89 para 4,06. No entanto, na virada do ano e em consequência das decisões do governo, a empresa teve uma queda vertiginosa no mercado financeiro.

Caso Merielle: Esboço da ação
O impacto das decisões do governo tomadas no inicio do ano, não interferiria profundamente na sociedade se tivéssemos um equilibrado nível de sanidade e cidadania. Ao dar mais dez anos de porte de arma a que já o tem, ao anunciar diminuição e impostos à quem comprar uma arma e abrir o mercado nacional à produção internacional, terremos maior flexibilização no acesso à compra de armamentos. Bom exemplo é a maior apreensão de armas de grosso calibre na história do Brasil, feita pela Divisão de Homicídios (DH) do Rio de Janeiro. Em uma casa no Meier, subúrbio do Rio, o miliciano e policial reformado Ronnie Lessa guardava 117 fuzis, sob os cuidados de uma amigo. Cabe observar que Lessa é apontado como o autor dos disparos que matou a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.


Cabe observar que Lessa é um agente do Estado, ainda que na reserva. Essa proximidade com figuras de poder político dão clara noção dos motivos de quase um ano sem solução do Caso Marielle. Quando o Estado através de seus membros, se envolve em ações atentatórias à democracia, fatalmente tais ações se refletem no restante da sociedade, exatamente por ser o Estado um claro reflexo do modelo de cidadania que se pretende estabelecer.

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Referências:

-          Declaração do Senador Major Olímpio-PSL
https://exame.abril.com.br/brasil/com-professores-armados-tragedia-seria-minimizada-diz-major-olimpio/
-          O ataque em Christchurch:
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/03/mesquita-na-nova-zelandia-sofre-ataque-a-tiros.shtml
-          O histórico de violência em escolas no Brasil:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47560084
-          Ronnie Lessa e as armas
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/03/12/policia-encontra-117-fuzis-m-16-na-casa-de-suspeito-de-atirar-em-marielle-e-anderson-gomes.ghtml
-          Tauros, na mira do mercado internacional
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/10/acao-de-fabricante-de-armas-salta-na-bolsa-com-aposta-de-investidor-em-bolsonaro.shtml
https://economia.estadao.com.br/noticias/mercados,acoes-da-taurus-despencam-apos-bolsonaro-assinar-decreto-de-armas,70002680408

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