Novo caso de terrorismo doméstico - foto: Paulo Guereta |
Logo após o atentado ocorrido em uma escola na cidade de
Suzano-SP, o Senador pelo PSL Major Olímpio, membro da chamada "bancada da bala", fez uma declaração que dá base ao
raciocínio que desenvolveremos à seguir. Segundo o mesmo,
“Se tivesse um cidadão armado dentro da escola, um
professor, um servente, um policial aposentado lá, ele poderia ter minimizado o
efeito da tragédia”
A questão aqui é a motivação por traz do discurso. Sem
pensar nas consequências para a sociedade, o senador do PSL aponta para um modelo
de país onde qualquer cidadão com condições financeiras, possa comprar sua arma
e, teoricamente, defender a si e aos seus, o que na prática, cria sérios danos colaterais.
Considerando o nível elevado de letalidade das atuais armas de fogo, podemos
entrar para o seleto time de países onde
o cidadão produz grandes tragédias, com a assinatura do Estado.
Se existe um tempero especial que deixa um gosto de morte na
boca de cada um de nós, esse tempero pode ser a intolerância. Essa falta de
paciência e total desapego ao direito ou opinião alheios, saltam das telas do
computador e parte para as ruas, templos e escolas por um motivo desumano,
ainda que democrático. Nossos espaços de representação política que cumprem seu
papel na estrutura republicana, está impregnado de representantes de grupos totalitaristas,
preconceituosos e fundamentalistas, que incentivam o ódio e a repressão ao
diferente.
Por conta disso, e por vivermos uma democracia representativa,
se torna uma consequência natural que essas figuras políticas produzam justificativas
e respaldo à ações concretas do mesmo tipo, na sociedade. O chamado “massacre
de Realengo”, que no próximo mês completa oito anos, tem como paralelo com o de
Suzano (em 13 de março), a intolerância motivada pelo que denominamos hoje como
booling. O crescente incentivo de uma parcela militarista de políticos ao uso
de armas, traz para o Brasil algo que já e comum entre jovens estudantes nos
EUA, que é o revide letal aos desafetos. Cabe observar que as mídias
eletrônicas são apenas mecanismos de aproximação ideológica, cabendo à
sociedade local criar o ambiente legal ou ético, que justifique a ação letal.
Atirador faz transmissão ao vivo do massacre - Foto: Facebook |
O massacre de ontem em uma mesquita na cidade de Christchurch
(Igreja de Cristo) na Nova Zelândia, mostra, por sua vez, outra face dessa
intolerância. A ideia de supremacia cristã branca naquele país desenvolveu um elevado
nível de intolerância contra seus os imigrantes. Deveria ser natural que uma
ex-colônia inglesa, como é aquele país, absorvesse em seu território pessoas
também submetidas ao mesmo regime de dominação. No entanto, parlamentares neozelandeses
promovem via internet constantes debates, incitando a população a reagir contra
manifestações culturais e religiosas que não sejam cristãs. Acrescente à isso
as diferenças étnicas o que, esteticamente, diferenciam um cidadão do outro,
deixando literalmente o ódio à flor da pele.
O chamado “terrorismo doméstico” tem então crescido
assustadoramente pelo mundo. Porém, vemos que o perfil do terrorista agora é
outro. Ou seja, não temos hoje aquele tradicional grupo de genocidas
internacionais, que se infiltram em países economicamente desenvolvidos. Esse
fenômeno ocorre hoje, sobretudo, por conta do desequilíbrio étnico e ideológico
que ocorre praticamente em países chamados de “ocidentais”. É a luta de
comunidades indígenas que se confronta com interesses econômicos no agronegócio
no Brasil, é a Esquerda, rechaçada por correntes que defendem o modelo de
Estado Mínimo e, por conseguinte comprometido com privatizações, arrocho salarial
e previdenciário, deflagrando assim esse clima de enfrentamento na sociedade.
O que o mercado de armas tem haver com isso?
Taurus: aposta equivocada no governo Bolsonaro |
Ao contrário do que muitos pensam a famosa fábrica de armas
nacionais TAURUS, não está com essa bola toda. Segundo matéria do Estadão,
publicada no mês de janeiro, o governo Bolsonaro prepara estudo visando a
abertura em 100% do mercado para a produção internacional de armas e
investimento estrangeiro no setor. Ou seja, a Taurus, que teoricamente deveria
servir ao mercado interno, terá que disputar mercado em pé de igualdade com
países como China e EUA, já consolidados no mercado internacional de armas.
O corre que a Taurus deu um tiro no pé ao apoiar e investir na
campanha de Jair Bolsonaro. Apostando nas mudanças no Estatuto do Desarmamento
e acreditando na manutenção de seu monopólio interno, Empresa Forja Taurus, que
teve na Bolsa de Valores um aumento de 91% em suas ações, só em uma semana no
mês de setembro de 2018. Segundo o site Folha/UOL as ações da empresa a empresa
deu um salto gigante em suas finanças, cujas ações passaram de R$2,89 para 4,06.
No entanto, na virada do ano e em consequência das decisões do governo, a
empresa teve uma queda vertiginosa no mercado financeiro.
Caso Merielle: Esboço da ação |
O impacto das decisões do governo tomadas no inicio do ano, não
interferiria profundamente na sociedade se tivéssemos um equilibrado nível de
sanidade e cidadania. Ao dar mais dez anos de porte de arma a que já o tem, ao
anunciar diminuição e impostos à quem comprar uma arma e abrir o mercado
nacional à produção internacional, terremos maior flexibilização no acesso à
compra de armamentos. Bom exemplo é a maior apreensão de armas de grosso
calibre na história do Brasil, feita pela Divisão de Homicídios (DH) do Rio de
Janeiro. Em uma casa no Meier, subúrbio do Rio, o miliciano e policial
reformado Ronnie Lessa guardava 117 fuzis, sob os cuidados de uma amigo. Cabe
observar que Lessa é apontado como o autor dos disparos que matou a vereadora
Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.
Cabe observar que Lessa é um agente do Estado, ainda que na
reserva. Essa proximidade com figuras de poder político dão clara noção dos
motivos de quase um ano sem solução do Caso Marielle. Quando o Estado através de
seus membros, se envolve em ações atentatórias à democracia, fatalmente tais
ações se refletem no restante da sociedade, exatamente por ser o Estado um claro
reflexo do modelo de cidadania que se pretende estabelecer.
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Referências:
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Declaração do Senador Major Olímpio-PSL
https://exame.abril.com.br/brasil/com-professores-armados-tragedia-seria-minimizada-diz-major-olimpio/
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O
ataque em Christchurch:
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/03/mesquita-na-nova-zelandia-sofre-ataque-a-tiros.shtml
-
O histórico de violência em escolas no Brasil:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47560084
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Ronnie Lessa e as armas
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/03/12/policia-encontra-117-fuzis-m-16-na-casa-de-suspeito-de-atirar-em-marielle-e-anderson-gomes.ghtml
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Tauros, na mira do mercado internacional
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/10/acao-de-fabricante-de-armas-salta-na-bolsa-com-aposta-de-investidor-em-bolsonaro.shtml
https://economia.estadao.com.br/noticias/mercados,acoes-da-taurus-despencam-apos-bolsonaro-assinar-decreto-de-armas,70002680408
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